O teatro estava determinado em duas funções: divertir e instruir. Com tantas experiências reinava uma espécie de confusão de estilos que Brecht vai chamar de babilônico. Em cenários de pura imaginação adota-se uma representação realista, resultado de efeitos positivos e negativos de um grande processo: o aumento da capacidade de divertir ao lado da técnica ilusionista, elevação do valor didático ao lado do gosto artístico.
Brecht é a tentativa radical no sentido de conferir ao teatro, um caráter didático. Feita através da tentativa da dominação da representação cênica dos problemas contemporâneos: petróleo, guerras, revoluções, justiça, questão racial. Problemas estes que trouxeram entre outros fatores, é claro, a necessidade de transformar o palco. Piscator já havia colocado o “filme” transformando o telão num fundo rígido, o placo giratório que tornou móvel o tablado permitindo desenrolar certos acontecimentos épicos como marchas de guerra.
Transformações estas que a princípio causaram um verdadeiro caos no teatro. Transformam o palco numa verdadeira sala de maquinas e um local de reuniões. Piscator fez desse teatro um parlamento e do público um corpo legislativo. Nas suas peças eram apresentados os grandes negócios públicos que aguardavam uma decisão. Com suas reproduções, estatísticas, seus slogans, o teatro ambicionava colocar seu parlamento (o público) em condições de tomar decisões políticas. Uma copia artística de um fato social. Visava sempre suscitar uma discussão. Provocar no público não apenas a ocasião de “viver” alguma coisa, mas provocar Néel a decisão completa de intervir ativamente na vida.
Para Brecht as experiências que Piscator fizeram saltar todas as convenções. Intervieram de forma marcante no modo de criação dos autores dramáticos, no estilo dos atores, no trabalho do cenógrafo. Enfim, no final das contas, o objetivo era dotar o teatro de uma função inteiramente nova
A arte poderia construir o seu próprio mundo sem a necessidade de fazê-lo com o mundo real. E esse privilégio deve a fenômeno singular a identificação do espectador com o artista é por isso mesmo com os personagens e os fatos postos em cena.
Brecht não considera a humanidade imutável, devido a todos os processos históricos e naturais o ser transforma suas relações de trabalho, seus processos, comportamentos.
A técnica do Distanciamento desenvolveu-se na Alemanha, no curso de uma nova série de experiências onde os artistas encenavam em escolas, fabricas de operários, em companhia de amadores, tratava-se na realidade da busca das experiências anteriores realizadas por Piscator
Essa técnica abriu ao espectador de hoje o acesso aos valores vivos das dramaturgias antigas. Permitiram apresenta essas obras do passado de forma divertida e educativa sem reconstituições arqueológicas.
É ao teatro da empatia que ele descarta. Num exemplo com a peça Rei Lear.
O sujeito se coloca como ser imutável e suas ações determinadas pela natureza de qual modo que é impossível se opor. A maneira que essas ações são apresentadas faz com o que o espectador se identifique. Todas as observações, sentimentos, tomada de decisões estavam diretamente ligada aos personagens que atuavam no palco. Não permitindo observações e não transmitindo conhecimentos além daqueles que é representado de modo sugestivo. Com esse teatro Brecht considerava impossível do espectador examinar se a cólera do Lear era justificada, ou prevê conseqüências possíveis.
Nesse teatro o espectador não discute. Compartilha. E isso não se trata simplesmente imunizar o espectador da cólera de Lear.
Através do distanciamento, segundo Brecht, o teatro estaria propondo uma decisão imensa talvez, a maior de todos os tempos.
Distanciar para ele seria tirar tudo de conhecido e evidente, e fazer nascer um lugar de espanto e curiosidade.
Se o ator for representar Lear através do distanciamento, ele representaria essa cólera de tal forma que resta ao espectador a possibilidade de se espantar com ela, de imaginar outras reações possíveis, além da cólera.
Esse Lear distanciado, representado com u m comportamento surpreendente, notável como um fenômeno social que não é indiscutível. Porque a cólera que Lear sente não é semelhante a todos os homens, de todos os tempos, historicizar, consiste em representar os fatos e os personagens são como fatos, históricos, ou seja, efêmero.
O que acontece com isso é que o espectador deixa de ver os personagens representados no palco como absolutamente imutáveis, que escapam de toda influência lançadas em defesa ao seu destino.
O espectador vê esse como este ou como aquele. Imagina o homem, não como ele deveria ser, e as circunstâncias também podem ser representadas de maneira diversas. O que se ganhou é que o espectador assume no teatro uma nova atitude.
O teatro passa a adotar o espectador como a mesma atitude diante da natureza que é um ser que se transforma o tempo todo, e é também, um grande transformador, aquele capaz de intervir na sociedade.
O teatro não tenta mais embriagá-lo ou proporcionar ilusões, reconciliando com seu destino. Esse teatro mostra como teatro pode ser ao mesmo tempo fonte de prazer e conhecimento. O distanciamento permitiu isso possível a tirar o espectador do comercio da droga intelectual, da feira de ilusões, fazer do teatro um lugar onde se viam experiências. Como o homem do nosso século, esse home sem liberdade, sem saber, porém, ávido de liberdade e de saber, como esse home torturado e heróico, explorado e engenhoso, homem transformável que transforma o mundo, homem deste grande e terrível século, pode obter num teatro, o teatro que ajude a tornar senhor de si mesmo e do mundo?
Sem mais delongas, essa foi a principal razão do teatro de Brecht
GABRIEL GARCIA
UNIRIO
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
Centro de Letras e Artes
Departamento de Teoria do Teatro
Crítica Teatral Ensaística (CTE - 2008.1)
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