UNIRIO
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.

Centro de Letras e Artes
Departamento de Teoria do Teatro
Crítica Teatral Ensaística (CTE - 2008.1)

25.4.08

Breve divagação


A prática teatral solicita por si só algo que me parece uma singular especificidade: O coletivo. Entender esse coletivo não significa somente construir um espetáculo em que há mais de um ator está em cena,e uma equipe por trás.O coletivo, ao meu ver, implica na associação espetáculo/público, ator/espectador. Esse ato coletivo, de pessoas reunidas em um lugar e hora determinados, é, por si só, um ato político. O grupo, na experiência teatral, são as várias vozes singulares, que se aglutinam e formam um, alguns casos mais outros menos democrático, coro. Quando juntas as vozes num "produto" final, junta-se a terceira voz: a do coletivo dos espectadores. Essa troca politica, penso, é para a maior parte dos artistas de teatro, o prazer insubstituível e melhor do ato artístico. É o teatro que nasceu do coro grego, de Tespis em sua carroça itinerante "juntando gente" para "dar a se ver" à outras gentes. Divago aleatoriamente sobre isso, por que me ocorre de momento a grande agonia de estudantes de teatro, atores principalmente, que ao saírem das academias querem somente atuar(e a grande agonia que foi e está sendo pra mim nesse momento!). Formar seus grupos é a maneira talvez, mais "fácil" de embrenhar-se nessa aventura, que é a profissão artística, a profissão do ator. Queremos um grupo para ter uma identidade. Queremos um grupo para construirmos uma linguagem que nos associe. Queremos um grupo para juntar forças e dividir ações. Queremos um grupo pois ali teremos um chão para falar, e com mais gente o caminho talvez seja menos árduo. Mas o grupo traz um tempo. O seu tempo. E disso ele não pode escapar.O tempo de um grupo vai se ruindo quando os desejos das vozes singulares do coro, já não desejam no coletivo. Já não desejam juntos. O tempo se esfacela, quando os desejos são opostos, não opostos artisticamente, mas opostos de vontades.Assim, grupos acabam, novos se formam. E cada vez certifico-me mais de que o teatro é o lugar do grupo, do coro, das vozes, dos desejos, das vontades enfim.

7 comentários:

Anônimo disse...

Lindo texto em um momento de muita dor. Dor essa criativa que nos põe a refletir sobre os rumos pessoais em relação à caminhada teatral. Concordo no que diz respeito à coletividade. O caminho para o início do fazer teatral está e sempre estará nas associações de vontades. Vontade essa, que geralmente se torna o grande obstáculo de continuidade de um grupo.

Pedro disse...

O teatro é a arte do coletivo, como também é a arte do efêmero, do imprevisível. Sentimo-nos confortáveis ao estarmos dentro de uma instituição acadêmica, discutindo, confrontando, teorizando, porém, temos a nítida compreensão de que o leão está solto do outro lado do muro, esperando o momento de nos abocanhar. E o momento do confronto também me angustia. Sofro muito... muito!

Verônica Fernandes disse...

Essa questão do tempo é muito séria, porque ele parece ser o pior inimigo de um grupo. O fato de sermos artistas não nos livra das mazelas da nossa grande coletividade, chamada sociedade, e para esta o tempo é cada vez mais curto, acelerado. E me parece que essa pressa por “não sei o quê!” invade a um ponto a vida do artista que cada vez mais observo uma dificuldade em se manter um grupo, pois todos anseiam por chegar ao objetivo final, e com freqüência é esquecido que o processo é que leva a ele, e que muitas vezes ter chegado a um trabalho e apresentá-lo, não passa de um “enganar a si mesmo”, e nos enganamos simplesmente porque temos pressa. Mas a arte requer um mergulho em dúvidas, reflexões, tentativas, equívocos, encontro com novas possibilidades... É o Tempo da arte e esse Tempo não se submete às leis do patrocínio, ou da nossa ansiedade em nos expressar, ou nos mostrar. É imprescindível dar tempo ao Tempo.

Dâmaris Grün disse...

Concordo plenamente com suas palavras, Verônica.O tempo da sociedade em que vivemos é do consumo, do veloz, do global que não tem fronteiras. O tempo da arte,me parece ser outro,ser desse mergulho,que você citou,nas reflexões, dúvidas, tentativas, erros, acertos...É por isso que gosto da definição que Roland Barthes faz do artista amador: "aquele que faz com amor, que se interessa mais pelo processo que pelo próprio produto final". Nos tempos de hoje é complicado e quase execrável pensar em arte sem apresentar talvez, um produto final e atribuir-lhe uma valor mercantil.Ser amador, nesse sentido, ainda é visto como utópico e frágil.

Dâmaris Grün disse...

Concordo plenamente com suas palavras, Verônica.O tempo da sociedade em que vivemos é do consumo, do veloz, do global que não tem fronteiras. O tempo da arte,me parece ser outro,ser desse mergulho,que você citou,nas reflexões, dúvidas, tentativas, erros, acertos...É por isso que gosto da definição que Roland Barthes faz do artista amador: "aquele que faz com amor, que se interessa mais pelo processo que pelo próprio produto final". Nos tempos de hoje é complicado e quase execrável pensar em arte sem apresentar talvez, um produto final e atribuir-lhe uma valor mercantil.Ser amador, nesse sentido, ainda é visto como utópico e frágil.

GABRIEL GARCIA disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
GABRIEL GARCIA disse...

O TEATRO É A ARTE POR EXCELÊNCIA DO COLETIVO, NÃO SE FAZ TEATRO SOZINHO, ELE PRECISA DE UM CERTO "OUTRO" PARA EXISTIR. SINTO QUE ESSE SENTIMENTO DA FALTA DO COLETIVO É SEM DÚVIDA UMA ANGUSTIA DA NOSSA GERAÇÃO, QUE DE ALGUMA FORMA ESTAMOS FALANDO, TOCANDO E TENTANDO TRANSFORMAR... AFINAL DE CONTAS A GERAÇÃO ANTERIOR FOI CALADA, SEPARADA MUTILADA POR UMA DITADURA, SOMOS A GERAÇÃO PÓS-TORTURA E TEMOS SIM FALAR,MOVER, MEXER,TRANSFORMAR,QUEBRAR TODOS OS EMPECILHOS QUE SÃO CONTRA A UNIÃO, MESMO QUE EM PEQUENOS ATOS, MESMO QUE NAS PEQUENAS FORMAS. O SIMPLES FATO DE NOS REUNIRMOS PARA ESCREVER SOBRE NOSSSAS REFLEXÕES, EXPANDIRMOS A DISCUSSÃO DA AULA, DAR CORPO AO NOSSO PENSAMENTO, UNIRMOS EM PROL DE UM DEBATE SOBRE A ARTE E O FAZER TEATRAL JÁ É UMA LUTA CONTRA A CORRENTE, ME PARECE QUE ESSE SÃO OS NOSSOS DESAFIOS DE HOJE. MAS ENQUANTO HOUVER TEATRO HAVERÁ O DESEJO PELA TROCA COM O OUTRO, COM A VONTADE DE EXPRESSAR O PENSAMENTO,TRAZER À TONA REFLEXÕES, DEBATES, QUESTÕES, TENSÕES, A VONTADE DE OUVIR VOZES, DE REUNIR PESSOAS, ENQUANTO HOUVER TEATRO, O COLETIVO NÃO DEIXARÁ DE EXISTIR!!!