Esta semana, foi assunto no Segundo Caderno do jornal O Globo a matéria sobre a reabertura parcial do Espaço Cultural Sérgio Porto[1], fechado há um ano devido a um incêndio, ocorrido no mês de maio do ano passado, e que até hoje, segundo divulgação do noticiário carioca, a Secretaria municipal das Culturas aguarda a conclusão do laudo pericial para dar entrada em possível ressarcimento e indenização futuros. Por enquanto, o centro cultural mantém em funcionamento os espaços da galeria de arte e o teatro só será reaberto no mês de julho. Com certeza que tal acontecimento é recebido, tanto pela classe artística quanto pelos freqüentadores do espaço, com bastante alegria, já que naquele local, o hibridismo de sua programação permitiu fomentar um público cativo e fiel, ávidos pelo frescor experimental de projetos como Humaitá pra Peixe e o Cep 20.000, que possibilitou a acolhida de tribos variadas da música, poesia e artes cênicas, tanto no horário comercial quanto no alternativo, definindo a “cara” de seus freqüentadores. Entretanto, o que dói fundo na alma daqueles que vivem ou apreciam o fato teatral – estudantes, atores, produtores, técnicos e público – é o profundo desleixo, por parte dos nossos governantes, com relação às outras casas de espetáculos que se afastam da zona sul, e que sofrem, ou de total abandono ou da falta de projetos consistentes, que tenham por base uma política continuada de ocupação. Para as questões que avaliam o primeiro caso, por enquanto, as autoridades não tomaram nenhuma providencia séria com relação ao Teatro Dulcina, belíssimo exemplar de arquitetura teatral, localizado em plena Cinelândia, aguçando ainda mais a revolta de quem um dia já foi freqüentador daquele espaço, e mais ainda, de quem já atuou naquele palco e transitou por entre seus bastidores. Vê-lo fechado dá pena. Depois que Bia Lessa assumiu a direção artística da casa (antes dela, o cargo era de Antônio Abujamra, junto com Os Fodidos Privilegiados) a convite do então gestor da rede municipal de teatros Miguel Falabella, três peças foram encenadas ali: Medéia (2003), Dilúvios em tempo de seca (2004) e Orlando (2005). Após este último, nada mais foi realizado. Agora no início do ano, o prefeito quis se livrar do elefante branco, devolvendo o teatro novamente para a Funarte, seu verdadeiro arrendatário. Este, por sua vez, não quis aceitá-lo nas condições em que se encontravam. Depois deste incidente, nada mais se soube a respeito. Infelizmente não resisto pensar de outra maneira, a não ser acreditar que este fechamento seja o reflexo nítido de uma política cultural que não respeita e talvez até desconheça a importância que este espaço tem para a história do teatro brasileiro. Sobre o fator que abrange principalmente a ocupação – ou melhor, a falta dela – desta vez, apontados principalmente nos teatros geridos pelo Estado, a situação é ainda pior. O que adianta somente construir edifícios teatrais nas localidades onde o acesso à cultura é precário, se não vai haver nenhuma implantação política de ocupação inteligente, para atender a demanda de uma platéia específica? Então basta somente edificar um prédio e dar-lhe o nome de teatro que a função social do governador já foi devidamente cumprida? A questão é mais profunda do que parece e envolve, creio eu, vontade política. Mas sabemos que a verba para a cultura é pífia e daí parte o (des)ânimo de quem trabalha com ela e não pode perder tempo, nem dinheiro, com empreitadas arriscadas, num teatro longe da zona sul e do centro, e sem um subsídio concebido.
[1] FRADKIN, Eduardo. Espaço Sérgio Porto reabre, mas sem teatro. O Globo, 12/05/2008.
Um comentário:
Muito legal essa iniciativa de vocês. Achei bem bacana mesmo.
Abraço
Daniele Avila
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